4.2 COARCTAÇÃO DA AORTA
4.2.1 Empidemiologia
Dentre
as cardiopatias, a coarctação da aorta é uma das mais comuns, representando
cerca de 5% a 8% das malformações cardiovasculares, com predomínio no sexo
masculino (2 a 3:1).2
4.2.2 Definição
Trata-se
de uma constrição da artéria aorta, de comprimento variável, na maioria das
vezes, entre a junção do arco aórtico com a aorta descendente mais precisamente
no istmo aórtico (entre a artéria subclávia esquerda e o ducto arterioso ou seu
remanescente.2,3 A maioria das constrições da aorta se localiza
distal à origem da artéria subclávia esquerda, na entrada do ducto arterioso.3
Mediante
as teorias à formação embriológica, há as seguintes observações:
à Durante a formação da
croça aórtica, o tecido muscular do ducto arterioso pode ser incorporado pela
parede da aorta, então, quando o DA se contrai ao nascimento o músculo ductal
na aorta também se contrai.3
à Durante a vida fetal, o
segmento da croça da aorta entre a artéria subclávia esquerda e o DA é
normalmente estreito, pois conduz muito pouco sangue. Após o fechamento do DA,
este istmo normalmente se alarga até alcançar o mesmo diâmetro que a aorta.
Quando o istmo persiste, forma-se a coarctação.3
4.2.3 Classificação
Na
coarctação pós-ductal ou tipo adulto, a constrição é imediatamente distal ao
ducto arterioso. Isto permite o desenvolvimento de uma circulação colateral
durante o período fetal, facilitando assim a passagem do sangue para as partes
inferiores do corpo.3
Na
coarctação pré-ductal ou tipo infantil, a constrição é proximal ao ducto
arterioso e o segmento estreitado pode ser longo e difuso. Antes do nascimento, o sangue flui pelo ducto
arterioso para a aorta descendente, a fim de ser distribuído pelas partes
inferiores do corpo. Em um recém nascido o fechamento do ducto arterioso
resulta em hipoperfusão, rápida deterioração e mortalidade precoce.3,4
A coarctação da aorta é a malformação mais comum na síndrome de
Turner2, sugerindo assim que fatores genéticos estejam relacionados.3
A forma atípica da coarctação é caracterizada pelo estreitamento
localizado distante ao istmo aórtico, com a constrição disposta de forma
extensa em aorta torácica descendente ao nível do diafragma ou em aorta
abdominal. Sua etiologia é freqüentemente associada a arterites, displasia
fibromuscular ou a causas congênitas, como por exemplo a síndrome de Williams.5
4.2.4 Coarctação da Aorta na Síndrome de
Williams
A
síndrome de Williams está associada à coarctação da aorta abdominal e estenose
da artéria renal. Associa-se, também, à estenose aórtica supravalvar, que
progride com a idade e à hipertensão arterial, que se desenvolve
secundariamente a progressão da estenose da artéria renal e/ou da rigidez de
sua para arterial6.
Dentre
as formas típicas de coarctação, uma valva aórtica bicúspide é anomalia
coexistente mais comum, mas também observam-se comunicação interventricular e
persistência do canal arterioso. A psdeudo coarctação refere-se ao dobramento
ou acotovelamento do arco aórtico sem a presença de um gradiente significativo.7
4.2.5 Complicações
As
complicações mais comuns são: hipertensão sistêmica e hipertrofia ventricular
esquerda secundaria com insuficiência cardíaca. A hipertensão sistêmica é
causada por uma complacência vascular diminuída da aorta proximal e ativação do
sistema renina-angiotensina em resposta a hipoperfusão da artéria renal abaixo
da obstrução.6
A hipertrofia ventricular esquerda ocorre em resposta a uma
sobrecarga pressórica crônica. A insuficiência cardíaca congestiva ocorre mais
comumente em bebês e adultos após 40 anos de idade.6 A elevada
pressão proximal a obstrução estimula o crescimento dos vasos colaterais a
partir das artérias mamarias internas, escapulares e artérias intercostais
superiores em direção às artérias intercostais da aorta descendente. A
circulação colateral aumenta com o envelhecimento e contribui para a perfusão
das extremidades inferiores e da medula espinhal.4,6
4.2.6 Diagnóstico
Os
adultos jovens podem ser assintomáticos com uma hipertensão sistêmica
incidental e pulsos diminuídos nas extremidades inferiores. A coarctação sempre
deve ser considerada em adolescentes e adultos jovens com hipertensão
inexplicável nas extremidades superiores. A diferença de pressão entre membros
superiores e inferiores pode causar epistaxe, cefaléia, fadiga das pernas ou
claudicação. Os idosos costumam ter angina, sintomas de insuficiência cardíaca
e complicações vasculares.2,6
Ao
exame físico, a metade inferior do corpo, em geral, é levemente menos
desenvolvida que a metade superior. Os quadris estão estreitados e as pernas
curtas em contraste com ombros largos e braços longos. As medidas das pressões
arteriais devem ser obtidas em cada braço e em, pelo menos uma das pernas. Uma
medida anormal é um aumento menor que 10 mmHg na pressão arterial sistólica
poplítea comparada a uma pressão arterial sistólica no braço. A pressão
diastólica deve ser a mesma nas extremidades superiores e inferiores, um
diferencial de pressão maior que 30 mmHg entre os braços direito e esquerdo
consiste de um fluxo comprometido na artéria subclávia esquerda. A palpação
braquial direita caracteristicamente revela um pulso forte ou até mesmo
pulsátio comparado com a elevação lente ou a ausência dos pulsos femorais,
poplíteos ou pediosos.2,6
O
exame de fundo de olho pode revelar artérias retinianas tortuosas. A palpação
precordial sugere uma sobrecarga pressórica ventricular esquerda. Na ausculta,
um sopro de gestão sistólica, refletido a presença de uma valva aórtica
bicúspide, deve ser pesquisados. A própria coarctação gera um sopro sistólico
audível posteriormente, na região hemitoraxica, cuja duração correlaciona-se
com sua gravidade. Sobre a parte anterior do tórax, os sopros sistólicos refletem
um fluxos colateral aumentado e podem ser audíveis nas áreas infraclaviculares,
na borda external e nas axilas.2,4,6
Na
coarctação do adulto, o achado mais comum no eletrocardiograma é a hipertrofia
ventricular esquerda. Os achados na radiografia de tórax são diagnósticos, a
localização do segmento da constrição entre a dilatação da artéria subclávia
esquerda acima e a convexidade para a esquerda da aorta descendente resulta no
sinal de 3. Chanfraduras bilaterais nas costelas como resultado de uma
dilatação das artérias intercostais posteriores são observadas nas terceiras
até as oitavas costelas quando a coarctação localiza-se abaixo da artéria
subclávia esquerda. chanfraduras unilaterais das costelas que poupam as
costelas da esquerda são observadas quando a constrição localiza-se
proximalmente a artéria subclávia esquerda.2,6
A
ecocardiografia transtoracica documenta o gradiente na aorta descendente e
determina a presença da hipertrofia ventricular esquerda. a ressonância
magnética cardiovascular representa a melhor modalidade para visualizar a
anatomia da aorta descente. O cateterismo cardíaco mede pressões e avalia
colaterais mediante indicação cirúrgica.6
4.2.7 Tratamento
Considera-se
a intervenção em pacientes com gradientes maiores que 30 mmHg ao cateterismo
cardíaco. 50% dos pacientes reparados com mais de 40 anos tem hipertensão
residual, enquanto aqueles submetidos a cirurgia entre as idades de 1 a 5 anos
tem uma prevalência menor do que 10 % de hipertensão ao acompanhamento a longo prazo.
A angioplastia por balão constitui o tratamento de escolha para a recoarctação
focal em pacientes previamente operados.
A colocação de stent endovascular
diminui a incidência de reestenose.6
REFERÊNCIAS
1 Pober BR. Williams-BeurensSyndrome. N Engl J Med.
2010;362:239–252.
2 Ebaid M, Afiune JY. Coarctação da aorta. Do
diagnóstico simples às complicações imprevisiveis. Arq Bras Cardiol. 1998, 71
(5): 647-48.
3 MOORE K L., PERSAUD T.V.N.. Embriologia
Clínica. 8ª Edição. Guanabara Koogan, 2008
4 Santos MA, Azevedo VMP. Coarctação da
aorta. Anomalia congênita com novas perspectivas de tratamento. Arq Bras
Cardiol. 2003, 80 (3): 340-46.
5
Kammerer H, Hager A. Atypical coarctation of aorta. Osphanet encyclopedia.
2003. Disponivel no site: http://www.orpha.net/data/patho/GB/uk-ACoA.pdf no dia 26/05/2011.
6 GOLDMAN, L. & AUSIELLO, D. CECIL
- Tratado de Medicina Interna. 22.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
AUTOR:
Erickson Danilo Padovani
Médico - CRMPR29559
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